é quando, aquele que antes era errante, o destino encontra. é como chegar ao topo do monte, vivendo cada passo sem sentir o cansaço desmerecedor. é irradiar. perder límites - até o da própria pele - sair da pele. sair da ideia - maior que idealizar e refletir - é só sentir. só ouvir. só caminhar. só seguir. é só deixar. deixar-se encontrar.
de quantos tijolos é feita a nossa casa? quantas histórias, talvez toneladas delas, é capaz de suportar? pode de repente, a pintura ruir? pode, sem aviso, o teto vir a desabar? e se por ventura eu não estiver, a casa permanece a me esperar?
Queria poder dividir mais. Talvez dividir-me até. Mas sem razão, pois pela metade nada vale a pena. (E se não for "nada", talvez sejam tão poucas coisas que nem se faz necessário mencionar.) O ser, de tão único, faz falta. Ser só um terço, é não ser. É assim que se perde o senso das coisas. Talvez porque dividimo-nos demais e não dedicamos os começos, meios e fins em algo que será único, como somos nós mesmos. Embora o desejo da partilha, seja uma saída para o estreitamento da viela - que chamamos de vida - não é partindo, mas sim somando, que agregamo-nos inteiros.
Enquanto a tendência corrompe (e bloqueia) a livre criação, os inseridos tirilintam suas taças menosprezando os marginais. Basta seguir um ou outro e assim, o rebanho é guiado. Mentes guiadas para consumir o que os tais oferecem. "Amem, idolatrem, compartilhem, curtam os nossos amigos no Facebook. E livre, sejam. Por nós conduzidos."
Rosalinda se nega a acreditar no fim. Por isso, chora todos os dias. Chora, tendo. E quando não tem, também chora. Derruba doze lágrimas de cada olho, a cada meia hora que passa. É uma bacia de fruta inteira, a cada dez horas. Quando dorme, acorda três vezes durante a noite para chorar. Acorda também três para beber água e duas para ir ao banheiro. Quando acorda, chora no chuveiro, no café da manhã, ao caminho do trabalho, nos intervalos de seu ofício de marchetaria, no banco do metrô, da estação até a padaria, da padaria até sua casa, e quando em casa, derrama suas benditas doze lágrimas a cada trinta minutos. Rosalinda não lê jornal, não vai à missa, não senta no buteco, não assiste à televisão, não conversa nos 30 segundos de semáforo, nem nos 30 de elevador. Mas, sorri. Só quando está entre os outros. E não se diz infeliz, ao contrário, sempre diz "vou bem". E suspira. Disfarçando bocejo. Rosalinda não vai bem. Mas ninguém nunca viu. Ninguém nunca esteve em sua casa, nem no banho, ou no caminho do trabalho, ao seu lado no metrô, atrás dela na fila da padaria... Ela nunca viu ninguém. Ela só vê o fim. Pois no fim, ela se vê chorando. E temerosa de que quando tudo acabar, se debulhará em lágrimas e em tristes despedidas, despede-se todo dia. Estendendo assim o fim, só para ver se ele não acaba.