[P]V - F - VR

Felizes são aqueles
que
assim desejam ser.

[P]IV

As frutas sorriem para as flores que fazem sorrir as crianças e os adoradores-de-mundo
As crianças desenham estrelas, brincam com baldes na areia e fazem guerra com as pás.

Os baldes e pás são infelizes nesta história, porque o plástico foi queimado a contragosto.

[P]III

(..)Preocupam-me as notícias das quais desconheço.
E as dores que saem dos pulmões e escorrem nos rostos.
E suspiros de tristeza velada que transmitem os olhos dos que sofrem.
Sofrem em segredo.

Preocupam-me as notícias que não sobem glote acima.

[P]II

(..) Olhos azuis são bonitos.
O oceano é profundo. Gatos são metidos. Cachorros são manhosos.

Avós de avental são extremamente dóceis.

Vida real - partI

(...) Debruçou o parapeito da janela.
O corpo caiu. A alma subiu.

Céu e inferno já não existem mais.

p o ss e ss ão

flor do
campo
vive livre,
mesmo presa rente ao solo

so
lo
é
de
um

voa, vai
flutua, cai


solta

se
solta

roda
pira
venta

e

volta.

Ezq))Os qu em a

l í r i o s
l í r i c o s

l i v r o s
l í v i d o s

l i n f o s
l í q u i d o s

l i n d a s
l o n t r a s
e
l a g a r t a s
do més ti cas

Do livro das esquizofrenias modernas

Sentou com os olhos presos ao chão e assim permaneceu.
- Como será seria?

Antes de descer do ônibus que o levaria até a casa da mãe, Elias conhecera Marta. Conversaram sobre as mesmas amenidades que recém-conhecidos falam e logo trataram de se calar, como esses fazem.
Após a curta chegada do silêncio, uma tosse:
- Já tomou café?
- Já sim. - Respondeu a moça corando.

Mais silêncio. Agora incomodava.

- Já? Quer dizer, um só? Você costuma tomar uma xícara só ou prefere assistir tv com a garrafa do lado, assim, para ter sempre à mão?
- Oi?
- Café. Você não prefere mais de um?
- Oi, sim. É... vou descer já. - E levantou-se num repente.

Deixou o banco vago e sumiu pela pequena porta. Logo um senhor de mochila infantil tomou seu lugar e os passageiros que por lá estavam se realocaram.

Elias se sentia sozinho. Talvez abandonado, não saberia dizer.
Acionou a parada e desceu na primeira oportunidade. Andou por quase duas quadras se sentindo esquisito e sentou-se abruptamente na calçada.
Prendeu os olhos no fundo-mundo de si. Na valeta da guia, sentira uma corrente de água suja molhar-lhe a mão. Lembrou-se do café e da pergunta que não fora respondida:

- Como será seria?

Do livro das esquizofrenias modernas

Clarice despertou do coma.
- Olhos. Olhos. Tenho olhos.
Sentiu o tecido suave do lençol de sua cama de hospital.
Mexeu os dedos devagar, provando a textura dos próprios braços. Arfou profundo, desacreditando.
Aos poucos foi movimentando os quadris e as costas dançavam sobre seu antigo leito. Desmoronando-se,reerguendo-se (...)
Solidificou-se, liquefez-se, evaporou si mesma. Tornou-se ar novamente.
Borbulhava por dentro, como nunca antes sentira. Queimava ardentemente, incrédula sobre a beleza de ser.

- Santa consciência.

E ligada, agora somente em si, desvencilhou-se do suco das máquinas que sugavam-lhe gradativamente a autonomia.

Fechou os olhos, por escolha própria. Fez o mundo obedecê-la.

Subitamente, despertou outra vez.

Adiou o relógio para mais dez minutos.
E ligeiramente se pôs de volta ao coma.

Passarir - Passarar

voa
alto

sujeito
comum

percorre
caminho
aleatório

em todos os fins-
da tarde

foge
para o escuro
da noite

fita
o horizonte-
trajeto

segue e n f i m,
onde enfim,
rumo
certo

de falsa calmaria

sopro irregular

ora
e s q u e n t a
ora
esfria

balança
descompassado
quando
em
tempo
brando
convulsiona:

ventania.



Tudo azul e etc

venta para dentro:

tempestade.


tocam-se os tambores
quebram-se os copos
partem-se os vasos
chocam-se os carros

queimam,
destroem,
explodem
escorrem
trans bor dem

(...)

outrora, teria pavor
hoje, por fora, tremor

e ainda assim, tudo continua azul.