Ode à lua

O que move o mundo

A lua está bem aqui
em cima de mim,
em cima do telhado,
onde não posso vê-la
Mas eu a vejo iluminar as nuvens
e os labirintos que elas formam.
Me dá uma certa tristeza
olhar o céu e as estrelas.
Eu sinto como se a felicidade
fosse mesmo inalcançável.

Para os que não tem asas

Há uma estrela bem na frente
da minha janela
Ela pisca muito lindamente
como se fosse um diamante.
Faz as outras estrelas no céu
parecerem apenas sorrir
Mas esta brilha incessantemente.
Escrevo no escuro para contemplar sua beleza
e penso:
por que afinal ela está tão sorridente na minha janela?

E fez-se a luz

Eu ouço a música
e vejo as nuvens
as formas dançantes no quarto,
um par de bolas de papel suspensas,
um quadro de corações,
retratos de crianças e pessoas queridas
recortes, jornais, livros, papéis.
Eu vejo tudo, quietinha, deitada.
Então bate uma inqueitação e eu preciso escrever
E aqui está o terceiro texto da segunda-feira.
O primeiro escrito à luz.
Saudando este maldito desassossego.

"Obrigado por me curar dessa minha ridícula obsessão pelo amor"

Se for me presentear,
só não me dê amor.
Taí um presente que eu dispenso,
não quero e desejo que fique o mais longe possível de mim.
O amor só traz problemas.
Ir atrás dele ou mesmo recebê-lo gratuitamente é a maior besteira
que você pode fazer.
Ao contrário do esperado, o amor é negativo
já a dor que ele traz, esta é positiva.
Ou seja, se é para sentir por sentir...
Eu prefiro a serenidade.

Como fez Alberto

Todos os pensamentos aqui reportados, são não-verdade
Pois qualquer e toda inscrição é manipulada
e a manipulação inibe a espontaniedade, ditada por mim: verdade.
Por este motivo é que me sempre me agradaram os loucos e os sonhos.

Desenganos

Dias de sofá, café e bossa nova. Eu escolho os discos e danço de meias grossas no chão escorregadio. Pequeninos são nossos olhos, inebriados de fumaça e paixão. O som roda nossa cabeça, cheia de vinho tinto. E cedo ou tarde, adormecemos.
Eu busco teu colo, você o meu. Eu te gosto tanto, o riso que me encanta, o toque, o canto, e a música de varanda de cigarros e violão. Só concordo contigo e a ti amo. Mesmo que às vezes isso seja uma mentira boba.

Sobre-mundo

Deitou-se sobre o cume da montanha e aspirou a paisagem. Tão belos tons de azul, pensou consigo mesma. Quem será que vem colorindo o mundo, desse jeito que eu gosto? Pensou nas nuvens escuras de chuva que andam rapidamente pelo céu, como quem tem pressa de desabar. E lembrou-se de um dia em frente ao rio, um dia de sol que hoje em dia só faz sentido pelo vento que passava, descordenando os passos e deixando ao acaso o equilibrio de ser pensante. Lá vai aquela cabeça de vento, pensou. E riu. Riu de graças e desgraças que tem visto, que tem passado. Riu dos cumes, dos montes, dos passáros, do eco que sua voz fazia. Riu de si, a pessoa que mais lhe agrada no mundo.

Enquanto a lua não nasce

Eu queria que não existisse, disse a menina tão vaziamente.

E as flores não abriram, o sol não saiu, o vento não ventou.
A tristeza não é minha, é do mundo.

Imbecilidade

Ter e não ter é sempre não ter
Incrível como perguntas podem ser desestimuladoras
E mais ordinária é a dúvida quem vem dia sim, dia não
E traz perda de sono, traz tempestades
Não quero ter o que tenho,
mas também não quero mudar
quero o que teria, o que seria, o que viria a acontecer
E nada é,
e nada fica,
e nada ficará.

para quem foi, para quem ficou

ela, ele, ninguém mais está
são almas, ou não
ou são só lágrimas dormidas e acordadas
o choro ecoa nas paredes
o silêncio traz os gritos
o nada que passa pela cabeça é tanta coisa
e tanta coisa, como se vê, parece ser nada
o vazio é imenso,
imensidão de ilusões que você tece nessa vida
ilusões tantas que são colchas de retalhos
e assim estamos nós,
retalhados
e assim também que nós somos
um pedacinho de cada um,
formando em fim, o que chamamos de felicidade.

Anexo

Sentados na calçada
na parte toda listrada

A noite vazia
Escura, lívida, aveludada
Enquanto você sorria
eu não temia nada

Prosa, poesia e palavra
já te disse que te amava?

A lua bonita falava:
de vocês dois não quero mágoa.

E calçada virou rua que virou estrada
e nuvem, virou quarto, que virou casa
Onde era nada, tudo ficara

E como quem não quer nada, ainda sonha acordada.





No or

Guardei algumas lembranças
para poder engolir o que ficou.

ou é pra que acabe logo
ou pra que ela fique exatamente
onde deve ficar.


Eu não sei o que é chorar quando eu estou rindo
Mas também, pra mim é fácil mastigar as lamúrias.


DAN

Ei, homem mascarado
Quem te deu permissão
para confundir minhas vontades?
(Ou aprender a ignorá-las)
A culpa é minha
por aquele beijo no rosto
ou o abraço que não foi de verdade
Óh céus, onde vive a profundidade?
Cansei da superfície
da superfície
da superfícialidade

Hoje (assim que acordei)

No começo é choque
e depois vira indiferente
porque nada dura muito hoje em dia
alegria, infelicidade, morte, crime, mistério
uma hora entristece ou sorri
e sempre tem gente nascendo,
pulando na frente de tiros,
rindo do susto que já passou.
No final das contas,
a história fica, mas dura pouco
e quando tudo acabar,
vão ficar no ar
essas coisas loucas todas.

Você sabe por que?

Eu não sei como começou, foi depois de uma ou duas doses de alguma coisa quente. Nossa, e já faz tanto tempo. Eu me lembro de estar encostada à parede, depois estar jogada no chão. Os dias voaram, e semanas alegres foram virando meses, sem que a gente percebesse. Mas o nada predominante estava por dificultar as coisas, porque 'nada' pode dizer muita coisa. E assim tudo foi passando, passamos passado, passamos presente e o futuro.. hum, bem, não sei dizer exatamente. Eu sei que gosto do seu rosto, da sua disposição e me alegra ver como ele parece um desenho animado. Isso me basta. Ou pelo menos deveria bastar.

Longe demais

A casa era branca e cinza, e não tinha fechaduras nas portas
De longe dava para ver que não existia ninguém naquela casa
Mas de perto, ela espantava.

Havia tanta gente, de tantas cores, com tantas facetas
declamando versos, derrubando pinos, dissertando o mundo, dizendo bobagens
E mais perto, já não era mais casa
era gente.

Era gente que saia por cada canto, de cada canto
era gente de vinha do céu, da terra, dos ideias daquele livro
é gente que brota na casa,
porque a casa não tem tranca.

07:42

Eis sábia razão
Fruto de toda fé
Fruto de cada emoção
Coordenada e calculada
para trazer felicidade
Em vista de alguma esperança,

não ter esperança em nada.

História de um corpo só

Sim eu me perdi, eu me perco com facilidade. Ela parecia um pão amanhecido com cabelos desarrumados e cadarços desamarrados. Você vai cair, falei. Ela só olhou para baixo e depois não tocou mais no assunto, acho que esqueceu ou não quis me dar uma resposta. Você vai ficar ai? perguntei já me arrumando para sair. Vou, respondeu. Mas você vai ficar sozinha, eu falei. Eu sempre estou sozinha. Finalizou. E saiu como se eu nem existisse.

Sei de cor

Remexendo o dia, nas fotografias, em meus,seus,outros escritos perdidos, nas ideias antigas, nas idéias de Schopenhauer, naquilo que minha mãe disse ao sair de casa e seus recados fixados nos painéis da vida que eu levo onde eu vou, onde quer que eu vá. Minhas próprias concepções, fajutas. De tempo em tempo, andando sobre e as aguas e em outro momento no fundo do oceano com os dizeres: regaste-me. E me tire dessa para uma outra realidade, paralelamente onde estou, sem sair de onde vim, sem sair daqui.

Nada de nada depois de dez ou vinte doses

Onde?
Onde?
Quando?
Mentira, não, nada sei dizer
nada, você pra mim é branco
que eu quero empurrar pra longe
e vem me tirando o sono
e pior que sono, sonho
eu não vivo dia
eu não vivo dia
eu não sei dizer
dane-se mundo e fim do mundo
dane-se tudo
o que eu não posso completar

Enquanto for assim

Tão escuro tem sido e não vejo nenhum resquicio de calor ou iluminação. Onde os gigantes não me vêem e não podem me molestar. Nestas montanhas e morros, antes de sonho, hoje sono não tem fim. Onde eu posso ver o que é que é que tanto há em mim? Alternar respostas, eu sou tanto não quanto sim e não existirá final, então, enfim.