Senso

Um só sentido sobre o tudo
bem colocado soa justificável.
Embora tudo seja muita coisa
nada se sabe do tudo
fazendo tudo transformar-se em nada.
Saber nada de nada.
Isso sim faz sentido.

Dormencia

As nuvens passam depressa
Nessa cabeça de vento.
Impedindo-me o pensar.
Onde o levitar toma o lugar do pesar
o que faz repousar.
Leve sentir.
Lento ficar.
Como se o simples sair
fosse o imenso
deixar.

Copo vazio

Começou com impossível e passou a ser plausível
Justificado pelos desejos insandecidos dos seus corpos.
Ela possuia mensagens indecifráveis na própria mente,
o que deixava transparecer em seu olhar vazio.
Ele tinha costeletas compridas, botas surradas
e eu não o ouvi dizer qualquer palavra.
Era incrivelmente claro o amor que existia entre eles,
um choque de amor, eu diria.
Pois o endereço parecia estar errado, e de tantas vezes
que eu vi isso acontecer, eu sempre tive a impressão
que a mensagem não chegaria.
Outras coisas parecem ser imperceptíveis para mim, visto
daqui de cima. O resto ou é incompreensível ou realmente
não houve qualquer outra incidência de afeto ou satisfação.

MAIS

Faça-se absurdo
Cego, mudo, enlouquecedor
Cabeça vazia e giratória
Baixa oxigenação
Faça-se abuso
Poder, fazer, acontecer
Efeito colapsal
Estrondos, explosões,
Cráteras na memória,
na consciência,
zero senso crítico.
Faço-me instrumento
de meus próprios desejos,
ocultos ou inexistentes
abstratos e incoerentes
frutos de toda essa ilusão
ilícita e descontrolada.

01:00 P.M.

A sua voz trouxe lembranças
para o meu coração conformado.
Mascarando palavras,
decodifiquei gestos em versos
troquei alguns verbos,
engoli seco o costume,
controlando o destino.
E para fazer da lembrança notícia
reta, direta e agora obsoleta,
Publico nos livros,
incontestável pesar,
surgido saudoso,
fadado a vagar.





?

Lentamente vou percebendo a falta
(E isso ainda é reflexão)
E encontro vestígios saudosos
pelas imediações.
Como o gosto daquele cigarro
e frases encadernadas que
reportam situações.

E sem ter na cabeça
simples resolução,

Intitulo nossa história
ponto de interrogação.

Bem-vindo Vento, à terra de ramos e galhos

Olhando para aquela nuvem de maçã
Sentada no topo do mundo
Falando sobre deliciosas bobagens mastigáveis
Bebendo risadas em taças plásticas coloridas
Notas musicais dançarinas
Pão, papo, proa, purificação
Ideias aladas, pairando sobre aquelas arvores
E na sombra que desenha o chão
Eu vejo os caminhos de galhos
Os ramos subindo por meus pés
O vento que me levou ao céus
Robou a alma que me flutua
Por um momento eu senti uma brancura
E foi só um sopro,
para que eu virasse brisa.

Chuvisco

Deixe-me fechar os olhos,
mes movimentos estão lentos
Apatia consome meu olhar
e meus sentidos vulneráveis.
Se a chuva não fizesse um som
tão bonito lá fora
Eu diria que a esperança de continuar
estaria morta.
E quando o vento sopra forte,
entrando pela janela,
Eu sinto uma fragilidade em meu corpo,
que me induz a acreditar que estou
enfraquecendo.
Eu estou.
Como aquela luz clara,
que lembra o entardecer.

O gosto pelo o que não existe

Lá onde mora o absurdo
e tudo que costuma estranhar
se estabelece,
É onde meu pensamento
vive.
Nos labirintos estreitos de caminhos
inimagináveis,
Nas florestas escuras de arbustos
incontáveis,
nas flores, nas aves.
No poder de fogo do por-do-sol,
um tanto robótico na minha visão.
Que uns diriam destorcida, outros despeitada,
eu diria incrédula, ou então exótica.
Mas creio que
a palavra confusão
descomplicaria
tudo.

Lab.Lob.Luv.

Eu só preciso colocar as palavras em seu devido lugar
e dar espaço para que transmitam, o que a boca recusa-se
a pronunciar.
O som que dá sentido é abafado por esse ar de leitura objetiva,
que se faz poética quando compreendida.
E quando não faz sentido para ninguém é que a mensagem
saiu dos trilhos, só não sei dizer o rumo que ela segue, embora
tanto as coisas se tornem incrivelmente previsíveis para mim.
E se eu me iludo em acreditar que não faço transparecer minha alma,
onde quer que ela se espelhe, é porque eu ainda acredito na
invisibilidade,
que permite, me liberta e me faz sentir, para que então
eu me encontre para ler-me.


Lunar

Os sons que ecoram nas paredes se faziam suspiros
E nem mesmo eu saberia dizer
Os seus significados
E o mistério que ronda os nossos desejos
Que de tanto ocultá-los, nos fizeram distante.
De quando em quando cedemos ao inintendível,
nos esquecemos desses nossos jogos
e abandonamos o controle que nos governa.

Então largemos nossos corpos sobre os lençóis
E deixemos que o luar ofusque o nosso delírio.