De que não há


sopro
de
21
gramas
que
flutua

dizem que,
viajante da terra,
morador do céu
tem no
seu meio,
o pouco de ar
que no pulmão
não há

onde
dançam
as
horas

invisíveis

como nem os relógios sabem

como os livros não contam

porque a fluidez
não é imagem
nem som
nem cor
nem palavra

dispensa
até
poesia



És

tu és ouro
com o qual me cubro,
feito cobertor

ouro rubro
qual fornalha,
qual fogueira

fomenta
uma saudade

nada branda
pouco azul

no comprido
do
meu
sangue

queima e
ferve

_
aquecido
pelo
fulgor
da sua
irís

que emana
feito chuva,

brilho
precioso_

é fogo

de tolo.
automático
sintomático

prático?

plástico.


Invariar

inevitavelmente
sei


e finjo não raciocinar
com a luz de destino que trago em minhas entranhas


já o sei -
é certo


inevitavelmente
certo




quisera eu, um dia
ter dispensado tal feixe que passou em um suspiro


mas, não


provei
e
engoli
 e
digeri


fiz rodar
um dia,
círculo completo
como se meu estômago conhecesse o calendário


inevitavelmente,
o conhece


_
quando sento-me sob o céu e vejo as horas correrem como bem as convém
percebo que inevitavelmente correm,


e não é só isso
e é também impossível evitar que se rastejem.


infusão

trilhei
a ilusão
com
palavra

é
pau
é pedra

castelo
de 
areia
que
escorrega
pouco 
a
pouco
das
mãos

esvai

palavra
que o vento
leva
e vai

palavra que sai
sem mistério
e quanto mistério
no ouvido
faz

letras que juntas,
combinadas
aglutinadas,
amontoadas

letras, frases,
sentenças, palavras
desenho que tem som

e som
que flui
toda
ilusão

 _
pedaço
de sentido
que vai
do céu
ao chão