Madrugada translúcida

Vou te dizer uma única vez e quero que preste atenção, ok?
A outra voz consentiu sem usar qualquer voz.
A chave está sob o tapete, quero que você a pegue e abra a porta, tomando muito cuidado pra não fazer barulho pois ela range ao abrir. Entrando na casa vá direito ao banheiro, abra o espelhinho e então estará lá.
Se houver alguém na casa, atire. Mas leve o silenciador, não queremos acordar os vizinhos.
A voz que falava parou para acender um charuto e então contiuou: Assim que estiver em suas mãos, você corra pra cá e eu juro que se por qualquer razão você se desviar desse caminho, eu te encontro e acabo com você pessoalmente. Vou queimar seus olhos e arrancar seus dedos um por um, você me conhece e sabe que não estou de brincadeira. Correto?
A outra voz balançou a cabeça com um sim.
E então, você tem alguma coisa pra me falar?
Tenho - disse pela primeira vez a outra voz, sacando seu revólver calibre .38 e dando três tiros na cabeça do homem tagarelante - Cala essa boca!
E saiu sem fazer barulho.

Um lindo dia nas proximidades de um lago verde musgo

Eu estou olhando para o meu querido, para o meu sol.
Nada poderia ser melhor, por que estamos sozinhos na beira do rio
E tudo que estava na minha mente, acaba de sumir.
Nesta manhã eu levantei e procurei por aquele vento da noite passada.
Eu acordei com uma vontade de correr naquele bosque
e observar as formigas que colhiam as folhas.
Limpando o nosso jardim, o nosso lugar.
O lugar onde o sol nasce.
E nada poderia ser melhor, pois eu estou olhando por você.

Surpresa da meia-noite

Tudo não passa de um equívoco, disse a mulher.
Ela olhava fixamente para os olhos do rapaz, transpassando toda sua calma azul.
Tinha cabelos esquisitamente coloridos e estava com a maquiagem derretendo, como se tivesse dormido da mesma forma que acordou, instantâneamente.
Ele usava botinas surradas e esbanjava um sorriso singelo, de satisfação inocente. (Criança com brigadeiro)
Oi, oi, você está ouvindo o que eu estou falando?!
Não, disse o rapaz.
Os sentimentos eram distintos, o cheiro dizia aquilo, as cores, as expressões faciais, corporais. Qualquer alguém perceberia, só não o rapaz-estátua.
Olha sinto muito, mas eu estava dormindo e não vou perder meu tempo aqui com você, seu maluco. A raiva da mulher dizia isso, mas ela não proferiu palavra alguma, pois nessa hora, o rapaz tirou do paletó uma florzinha miúda, com folhas pequeninas, num copinho de café. E disse: Boa noite senhora, vim lhe desejar bons sonhos.
Então esboçou algo que parecia ser um sorriso e virou as costas.
A mulher permaneceu parada à porta, não compreendia nada, só sentiu o momento que ali estava.
As cores dançaram se aproximando de tom, o vento tinha um só sentido, o cheiro era doce e facilmente identificável.
Então ela soube o que era ser estátua.

Dançarino-maratonista


Assim como as cores da sua
camisa, ora sei, ora não sei o que
acontece entre a gente.
Prefiro não saber, porque eu
mesma não tenho respostas pras
minhas perguntas.
Só sentindo eu talvez já saiba.
Sentindo o vento bagunçar nossos
cabelos e os rodopios
descordenados de nós dois.
Sentindo o sono que a gente troca
meio que sem querer, mas que faz
um bem danado.
E também a energia que faz a
gente sair correndo por aí.
Rindo do nosso parentesco fajuto,
das bobagens que a gente fala e
dessa felicidade instatânea toda.





Chover

A chuva deixou o chão molhado e escorregadio.
O verde ficou lindo com a chuva, a grama parece sorrir. As flores cor-de-rosa que minha mãe cultiva estão todas abertas, com uma cor incrível de felicidade.
O céu está num cinza brilhante, que até dói de olhar.
Eu vejo tudo isso enquanto tomo meu café, no parapeito da janela.
Pensando nisso, em outras coisas e em mais algumas.
Pensando nesse chuva fininha que deixa a gente ensopado pela metade, chuva de frio.
Pensando se devo me jogar na chuva ou se espero ela me pegar.
Estou a um passo de me molhar.


Suspiro

Assim que a luz do sol morreu, levantei e fui fechar as janelas.
A casa estava fria, escura, abandonada, assim como eu estava.
Vi diversas sombras e as luzes dos carros lá de fora. Ouvi vozes, imaginei histórias.
Eu vi o vento entrando pelas frestinhas, balançando as cortinas, invadindo o meu conforto.
Eu me escondo aqui dentro,
mas o mundo faz questão de me encontrar.

Sem rodeios

Eu ligeiramente entendo, mas ainda não sei o que fazer.
Tento não achar certo, embora às vezes eu ache.
Tento não achar errado, e logo mudo de idéia.
Eu gosto de pensar nisso e às vezes eu não gosto.
Eu tenho medo na verdade,
de me encontrar em você.

Os gritos das seis

Os gritos na madrugada me fizeram pular da cama como um foguete.
Abri as portas, escancarei as janelas, desespero e urgência percorriam todo o meu corpo, fazendo-me tremer.
MEDO.MEDO.MEDO.MEDO.
Ao me deparar com aquela cena de horror, permaneci dura como pedra.
Passe por mim problema e eu acabo com você.

O porquê do dilúvio

Ela parou de caminhar e olhou o céu. Que azul engraçado, pensou. Continuo a olhar, mas nada mudou.
Ao chegar a seu destino se despediu do dia. Entrou numa caixinha, bem compacta, que não cabia nem um bracinho da menina, porém ela passou o corpo inteiro.
Lá dentro, nem eu ou você podemos saber do que se trata, confesso que até tentei entrar, mas não cabia nem um único pensamento meu ali.
O curioso foi ver o dia que se passava pra fora da caixinha.
O céu escureceu. O vento maltratava as casas, as pessoas, as coisas, virou ventania, vendaval. Uma chuva forte fazia parecer que o céu desabaria a qualquer momento, caindo pedaços do mundo nas nossas cabeças.
O absurdo foi tão grande, que depois que aquilo passou, eu continuei sem entender nada.
Então, ela saiu da caixinha.
O mundo ficou pequeninho perto daquela monstruosidade toda. Cabelos compridos, manuais e regras grampeadas na sua enorme cabeça e no seu corpo, a inscrição de todos os seus registros.
Ela olhou pro céu e um deu um sorriso instantâneo, como se o pensamento o tivesse impulsionado pra fora bruscamente.
Nada havia mudado, somente ela.

A espera

Ontem eu achei um escrito, de um momento de espera.
Então, a uns momentos atrás lembrei dele e fui lá em cima pegar.
Mas eu esqueci.
Então aqui fica: A ESPERA.

ps: obrigado por comentar.

Tudo o que eu pude enxergar durante os comerciais

Eu acredito na mudança. Das gentes.
Você muda o mundo muda. Não muda?
Parece bordão de comercial de refrigerante (e é!) mas eu considero como verdade.
Você pode mudar uma realidade a partir do momento que você julga alguma coisa como certo ou errado. Julgar não é errado, muito pelo contrário, é orientação para a ação. Às vezes eu acredito que todo esse falso moralismo em cima dessa questão de julgamento é exatamente para que a gente não faça julgamento de nada, do tipo: viva assim a Deus dará, siga ordens para sempre.
E realmente era esse o ensinamento, do século XX. A maioria das situações de mudança que passamos hoje é pra conscientizar o pensamento, é de independência e não mais dependência, querem que você pense, faça e ainda mostre bons resultados. Tudo isso a partir de uma idéia já concebida que será moldada à sua forma.
Claro, que essa mudança ora visível ora invisível ainda não é a dominante, pois quem detém o poder, ainda são os velhos coronéis de antigamente, que têm aversão a esse tal "pensamento moderno".
Problema esse que se reflete em todos os costumes da sociedade.
A busca do conhecimento para as pessoas estacionadas no século XX é inviável, trazendo esse legado medíocre para dentro das famílias. O que forma gentes como vemos hoje. Pessoas que se contentam com o próprio conhecimento e buscam informações ateadas ao que já conhecem. Não há reciclagem de ideias, não se assumem erros, não enxergam suas responsabilidades, são pessoas dependentes de ideais do passado.
Não que eu acredite que as pessoas devam seguir os ideais modernos. Eu acredito que cada um deve seguir o caminho que bem entender, desde que haja uma avaliação das possibilidades, o conhecimento desse caminho, um cálculo dos riscos, assumindo as responsabilidades, ponderando as alternativas, havendo uma reflexão sobre o que as pessoas dizem ser verdade e o que realmente é, e no poder que nos é conferido para decidir o melhor pro EU.
Essa é a minha concepção de modernidade, o que nada tem haver com óculos coloridos e música eletrônica. É um pensamento na verdade, antigo. É talvez um dos mais antigos e mais explorados por filósofos, sociólogos, antropólogos e simpatizantes em geral, é o autoconhecimento.
Peça chave pra você se livrar de um porre de problemas (excluindo os existenciais, né). Saber seus limites, habilidades, potenciais, medos, é saber lidar com situações de vários tipos e criar uma coisa que muita pouca gente nesse mundo vai realmente conhecer, você.
E a partir daí não existem mais regras, você muda, o mundo muda, o mundo muda, você muda.
http://www.youtube.com/watch?v=M1mVSTnzxBs&feature=related
Eu tenho medo que os dias passem depressa
ou que passem devagar.
Eu tenho medo que os dias passem sem parar,
parem pra eu passar, parem de passar.
Eu tenho medo de encontrar o tempo,
e de o tempo me encontrar.





Pensamentos práticos (estão rondando)

A verdade é que fazer coisas importantes dói na alma. Dá um trabalhão, desgasta até, dá vontade de morrer.
Mas depois de pronto dá a maior satisfação. Você planejou e executou.
Legal. Quem dera acontecesse sempre assim.

Mais uma de pernilongos

Veja bem meu bem, os anos se passaram e nada mudou.
Você nunca mudou pra mim, eu nunca pra você.
Tirando as vezes que você acordava com a pá virada. O que complicava tudo.
Mas tudo que eu via era amor. Nos seus espamos de madrugada, seus dentes vistos daquele ângulo que eu já conheço, seu cabelo maluco, uma doçura e uma ingênuidade que só você tem.
Eu te conheço assim, como a palma da minha mão.
Você ai, vivendo no mundo da lua e eu tentando te trazer pro chão. Justo eu.
Lembra da história das cordas? No principio você era a corda rija e eu a tenra. E hoje o contrário acontece.
Então permanecerei aqui, firme e forte, como quem sabe dos dias futuros.
Eu não sei na verdade, mas as histórias devem sempre ter final feliz.

Domingo

Tudo isso é ilusão.
Conforta.
Consola.
Acompanha, e então
Acaba.

Chamada Desatino Luna

Numa tarde ensolarada, Luna rabiscava qualquer coisa num caderno antigo e ligeiramente comido pelas traças.
O ar estava parado, levando incessantemente ao tédio. Ela já mal conseguia mexer os pulsos, então largou a caneta e adormeceu.
Fechou os olhos e se imaginou numa praia, noite e andando de mãos dadas com alguém que como ela, adora conversar. Fazia um vento brando que carregava as nuvens pra lá e pra cá, tampando e destampando a lua. Ah, e tantas estrelas, de todos tamanhos e jeitos, umas que piscavam fortonas e outras tão pequeninas que pareciam se mexer. Quando se cansaram, deitaram na areia abraçados a fim de ouvir o coração um do outro e suspiraram como apaixonados.
O suspiro foi tão alto que eles viraram balões e subiram ao céu. Viram luzes claras, no tom da redenção, nuvens coloridas, elefantes azuis com bolinhas brancas, coca-colas dançarinas, peças de roupas transitando entre papagaios e piriquitos transvestidos de zebra. Nossa, o céu é mesmo maluco.
Então abriu os olhos e deu de cara com o branco do teto.
Pensar estraga mesmo a brincadeira.

Mi camino

Você entrou no Trem
E eu na estação vendo o céu fugir
Também não dava mais para tentar, lhe
convencer a não partir
(...)
E o meu coração embora finja fazer mil viagens
fica batendo parado naquela estação.


Caê

Certamente

Passar pelas fases da vida é algo de bem e de mal que nos acontece. Não dá pra saber por que a vida é tão misteriosa, parece ser sempre a mesma coisa.
Pouca coisa muda, o ciclo mais o menos normal seria nascer, depois sorrir e brincar por um bom tempo, depois se sentir mal por ser tão dependente, seguido da fase estranha, da fase rebelde, da fase confusa, da fase aterrorizante, da fase que você acha que sabe de tudo (isso é só o começo do saber, é saber que está sabendo) e depois que nada mais faz sentido. As outras fases ainda são só suposição pra mim, se eu ficar viva talvez descubra.
Minha mãe disse que todo mundo passa por isso, quase que do mesmo jeito. Minha mãe entende de desenvolvimento humano, acredite.
Quando eu acho que descobri alguma coisa, eu vejo que mil gentes já achavam isso e pensavam da mesma forma, mas pra mim ainda é descobrir. Afinal, se eu não descobrir, como é que eu vou saber?
Mas é um puta sofrimento. Eu tenho horror a não saber. Quero saber pra poder lidar. Pra entender, pra diminuir esse sofrimento. A ignorância é um mal e a curiosidade uma virtude.(será?)