Aos tolos que só sabem falar de amor

Eu sei que
existe cura
então
não jura
que me ama
não me engana
não me diz que
sou sua dama
só para me
jogar na cama
e não tente
me ludibriar
com frases falsas
nem tão pouco
algemar minhas
asas
que não sou criança
para fazer pirraça
nem otária
para viver de lágrimas.

a história de uma noite sem lua

nunca esteve tão sozinho
e tão sem pensamentos

nem clarão
nem ilusão
nem coração
nem roda rodando
nem carro passando
nem chuva chegando
o mundo parou
parado ficou
na linha do trem
enquanto ele vem
espera que sim
que leve a mim
a luz que chegou
à porta adentrou
levou-me para cima
para longe da rima
para perto do fim.

Amor - parte dez e um quarto

O amor pode ser dualidade porque ele é dor quando dói e amor quando ama.
Mas você deve saber que o amor é um mal necessário. E por mais breve que ele possa ser, nem o mais tolo dos homens deve se privar de amar.

Com você

sorriam sorrisos
mãos dadas
quando é três e
quarenta e um
da manhã.
Leite morno
café quente
danças escalafabéticas
no subsolo.
casacos compridos
botas compridas
sono comprido
no lugar certo
e no lugar errado
não dizendo que não sabe
onde é aqui
para eu não dizer
que não sei
dá-me então a chave,
te pego no colo
andando por onde eu moro
ao redor do seu coração.

Marina

Sentei para ler o livro afanado de uma festa num trem no subsolo que deixam a gente tonto, todo zuado. A sensação era de explosão de miolos. Mas também outras coisas me angustiavam: corações vazios, histórias mal resolvidas, saudade, remorso.
De qualquer forma, eu estava ali e peguei o livro para matar o tempo.
E na página 42 foi a primeira que abri no poema que fora intitulado 'Marina' e dizia o seguinte:

"Ontem um amigo me disse:
'felizes daqueles que entendem que até o
amor é passageiro'
incerto finito solitário
e o par perfeito
momentâneo
Por isso eu digo
meu bem
felizes deles
aqueles que entendem que o amor é
passageiro
pois em nós
mistério
é encanto
é intenso
é sério"

Junior Bellé

obs: Eu não conheço o Junior Bellé, mas eu gostei do que eu já pude ler n'O Sonhador que colhe berinjelas na terra das flores murchas', e isso traz pra perto o seu eu lírico. E como de costume me faz procurar nas suas linhas as minhas próprias ou simplesmente aceitar qualquer não entendimento inicial.

obs2: Vou roubar Marina para mim.

dia/noite/dia

A não movimentação dos seres
é a não movimentação da gente
estar parado como uma parede
pensando como uma parede
duro como pedra de parede
eu tenho preguiça de mexer
o mindinho
e ficar sozinho
num sonho vazio
eu não sei mover montanhas
eu não sei dizer não vá
e não quero conselho,
nem conversa
eu só que só me estrepo
por não querer o que quero
querendo o que quero.

do ser

eu sou inconscientemente
consciente
se me é pertinente
estar ciente
finjo ser presente
e me esqueço
num repente.


O que eu vi de 'styrofoam plates'

deixe-me fazer azul
aquela música que me lembra o céu
e me deixa colorir o disco todo
eu olhei para o vazio
e vi todas as imagens
que ouvi naquela canção
é como uma ponte
comprida
caminhando
sozinha
no céu
tão escuro
e os olhos
teus olhos
e chove na sua ponte
enquanto você está no meio caminho
é mais triste agora
é como um pensamento
não poder parar
ter de continuar
atravessando a ponte
eu estou
ela está
ele está
no sonho, não sei
na imagem
a chuva molhando o mundo
a chuva escorrendo na gente
na ponte
nos olhos, novamente
é crescente
e cada vez mais próximo
mais próximo
latente
correndo na ponte
e lá vamos nós de novo
mais uma vez,
mais uma vez,
não há motivo
e a ponte parece cada vez mais longa
vou parando
vai parando
vamos parar?
vamos deitar nessa ponte
vamos aproveitar a chuva
isso não vai dar em nada
não aguento mais correr
não aguento mais tentar
o mundo molhado
molhando meu mundo
molhando essa ponte
deitando na gente.

Visitas

cartões postais dizem olá
as malas estão na porta mais uma vez
o cãozinho que olha pela janela
'onde estará? 'onde estará'?
as caixas vazias dizem que você apareceu
os maços de cigarros espalhados
os chuviscos embaçados
os papéis mexidos e revirados.

é dia, é noite
também te espero na janela
você não chega,
será que vem?

preciso pensar que não
e recolherei as flores para que não morram,
a te esperar.

No bongo mombo

Eu, que anseio veladamente
Refugiada no equilibrio
Parecendo fingir que sou
não sou
alguém que vê e vive
minto que não estou
que nunca fiz,
que nunca fui.
E é até dizer chega
Onde as 6h eu olho
e posso ver -
eu te anseio por demais.

Como colorir com giz de cera

enquanto caem estrelas do céu
a avenida não para de se movimentar
as luzes andam pelos lados e caem nas cabeças
dos que passam desapercebidos
e tudo continua igual
mas ainda têm um milhão de estrelas no chão
e a avenida não parou para ver
quem passava não parou
ninguém nem percebeu que aquela rua
tinha virado céu.

apostas opostas

Sentado naquele banco, na rua fria, as dez da noite ou do dia. Sozinho, como uma pedra, como o sol, como uma cobra cega. Zumbindo, como um morcego, como mendigo, como mentindo. E disse não e disse sim, disse amor e rancor, disse coragem e pavor, disse palavrão e por favor. Deitado levantou pra sentado girar. Não sabe de onde veio e nem onde quer chegar. Se diz filho da sorte, da graça, do bem estar, mas cansado de rir, começa a chorar. Entretanto, porém, todavia - não sabia se rezava ou bebia. Sabia das luzes, das moças, da pedra fria - mostrava bem o que escondia. Perde, ganha, perde, ganha, perde, ganha. Todo dia.
não sei
não quero saber
mas não tenho raiva de quem sabe
e eu lá tenho raiva das gentes?

PB&J

venha correr no trilho do trem
a espreita de qualquer aventura
que se espelhe a uma caixa de surpresa
venha roubar-me o sol, se quiseres
venha voar com os meus cabelos
vá e venha e voe
mais alto
mais longe
mais para o fim do mundo
encontra-me
na brisa
do sol laranja
céu azul
flores roxas
e imensidão
em tamanho
em sentido
em palavra
um mundo a ser desfrutado
eu e você
você e eu
e o vento
se ele quiser levar a gente

Não me venha falar de flores

quando
eu disse quando
como
eu disse sem vontade
eu não consigo mexer o corpo
onde está meu corpo?
onde estão todas as coisas que deixei aqui antes de sair?
para onde foram? como foram?
como vou aguentar?

não sei
n~
ao
sabem
não sabemos

sabia razão, onde está você quando estamos embriagos
e sem saber o que fazer?

.

está longe demais
é hora de dizer adeus

está na hora de partir
pra onde eu não sei dizer
para onde estejamos conformados
para onde resgatemos as forças do centro da terra
para onde possamos estar completamente esquecidos

não quero uma só palavra
nem minha, nem sua
nem pensamento algum
eu penso, eu peno eu acabo por errar
eu não quero adeus
mas eu sempre tive que
e assim deverá ser.

com um ponto
final.

O que a kate nash me fez dizer

Juro que não estou errada
juro que o que eu disse foi real
juro que dessa vez eu vou ser mesmo eu
e não vou deixar o medo me aprisionar
mesmo que ele me amordace
mesmo que eu corra um 1km embaixo de chuva
mesmo que eu esteja errada
eu vou continuar
eu não vou desistir
e não me faça esperar mais
eu quero como você quer
eu finjo que não percebo, mas eu sei
e você sabe que eu sei

esconda as facas daquele armário
esconda sua porcelana prateada
e prepare-se para sair fora do eixo,
onde vivem os loucos e os deslumbrados.
O amor é como o sol. Quando fica bom, fica tão bom que chega a ser insuportável. Quando fica ruim o mandamos embora e então ele congela o coração da gente.

Nós estamos aqui

o vento soprou forte
adentrando as nossas particularidades
dançando com a mente muda
e os olhos presos ao escuro do céu
um movimento
de estar acordado
rodopiar o mundo
no deslize do absurdo
ouvindo e tirando música

de onde não sabemos onde
não há possibilidade de dizer
só de estar

Mesmo que eu já saiba

tracejei o nosso caminho
na história que escrevi
fiz tudo como sempre desejei
até os olhos apertarem de felicidade

criei casas com jardineiras e jardins
muitos azuis de céu
criei animais pequeninos com olhos engraçados
criei cercas brancas, banana split, cachorro quente com mostarda
criei assim, sem sentido mesmo

se pintasse em tinta seria lindo de ver
mas só sei pintar com palavras
e colorir com música.
esperando para um dia,
abraçar os desejos
que eu não vou realizar.

Dá-me razão

não compreendo o tempo, o espaço, o destino, não estou nem lá nem cá com o mundo, embora nós andemos de mãos dadas - ele muda o meu percurso e eu aceito sem dizer uma palavra e quando eu mudo o nosso rumo, ele também não faz objeções - mas devamos estar bem e se não estamos - tudo vai mal, anda mal, não sai mal do lugar - eu não estou com o mundo mas eu estou com o mundo e não venha me falar de predominância - perigoso estar tão perto, saudoso estar tão longe - confuso ser um só sendo tantos e ter de dar explicações ao mundo e as pessoas que vivem nele - mas o que tem elas com o nosso relacionamento?
O amor para mim é um sofá caramelo macio com chá quente e bolacha maria com mel, enquanto um cachorro vestido de tricô morde os nossos chinelos.

Alguém deve resistir

Teve por séculos e séculos a chave presa ao peito,
nunca, em hipótese nenhuma, deixou que a levassem.

ele esteve em tempestades de areia
e em terríveis furacões,
comeu poeira e asquerosos musgos das pedras

foi e voltou de lugares onde nem o vento nunca viu.

E ainda estava junto à ela, junto aos planos que fizeram,
ele esteve no topo do mundo abraçado com a única imagem que lhe restara,
de uma vida de sonhos, nuvens, cânticos e ilustrações distorcidas

a distância que os separara era a mesma que os unira
da lembrança ao aperto no coração

Susie sorri à sombra

você pode ver a vida como quiser
você pode ver a cara na caroa e a caroa na cara
os adivinhos não adivinham como vai ser teu dia
porque se o dia é teu você pode pintá-lo como mais lhe agradar
respondamos pelas nossas coisas e por nossa gente
acena-me um sorriso, aperta-me no abraço, olha-me nos olhos
e no pôr do sol não existe felicidade maior
uma nova carga de energia que entra pelo ouvido,
no vento
e nos olhos, pela mistura das cores
e toda a sensação de ver e ouvir e ter montes de árvores ao redor
e elas não falam, e elas não te veem
e você pode ser livre para ser o que quiser
e voar,
se te der vontade.

Um bom tempo de paz

é bom sempre levar em consideração o não
e descobrir formas de encontrar um sim
eu vivo negociando um não
muito mais do que um sim
eu tento encontrar motivos para não
e ignoro completamente o que seria sim
para quê sim?
para querer e ter
mas e depois?
depois não tem, depois não é, depois fica para depois
e eu não sou de ficar para depois
não que eu não seja
mas eu não me permito ser
eu permito ser uma pedra, uma parede
eu me permito ser um exercito de homens bons
e eu sorrio para as outras tropas
essa é a minha arma,
além dos dentes e das garras
que eu devo, mas nem sempre quero mostrar
eu quero ser talvez, um homem forte
eu quero ser um schopenhauer da vida
mas não quero acabar como ele
conformado
eu quero que as coisas passem em cima de mim
e as vezes eu quero chorar
mas eu não me permito
eu sou e devo ser uma grande muralha da china
e dane-se se isso não é liberdade
eu não sei porque eu quis, nem porque devo
mas eu sei que quero
e sei que devo.

Dizer chega

a escuridão das quatro da tarde,
desorientação nas montanhas de edredon
cabeça cheia de chumbo
corpo que o trator passou por cima,

onde estou?
onde estou.

Não há

encontrar seus ombros na beleza da vontade e observar as nuvens.
sem palavras.
nem sempre precisamos delas.
e se existem palavras entre a gente,
elas vêm acompanhadas de sorrisos
e depois de sorrirmos olhamos para o vazio, porque é capaz que nossos corações pulem um no colo do outro.
é tão desesperador e tão confortável
é como ter asas e voar, é como ter pernas e correr, é como poder fazer girar o mundo com as coisas mais simples que temos
confusos, confundidos, confusões e lá vamos nós de novo
buscar de novo, perder de novo, achar de novo, sorrir de novo, sofrer de novo, viver de novo, sonhar de novo,
e o tempo nos tornará novamente um, novamente dois, novamente um, novamente novo
não existe um só relato são, um só caminho aberto, um motivo certo
não sei bem se devo, te trazer para perto.
mesmo conspirante, roda mundo giratório, roda e roda quieto
eu acordo e pronto, tudo volta a ser mutável, tudo volta a ser incerto.

Em mãos

Os balões escaparam novamente
porque a menina sabia o que era respeitar a vontade.
Mas, mesmo assim
ela chorava por sua perda.

Acostumada a distribuir sorrisos,
sofria escondida do mundo
e por onde passava
acenava com sua curiosidade.
Mas, sempre
cheia de dúvidas
e algumas desilusões.
Muitas histórias de aventura
e eventos sem explicação.

Assim, cantei o mundo
e colori os dias
Assim transformei
folha em branco
em poema
e vivi como
gente grande
sendo
gente pequena.

Sntmntl

Sentimental é sentir o vento
Sentimento
que casou com o
momento.
Quieto, penso:
sentimento.
Sen-ti-mento
Sem ti,
senti,
meu lamento.

Repetidas vezes novamente

Pensou que sim
e logo após mudou de ideia.
Ela largou o mundo na mão
então o mundo se despediu dela.
Sozinha, perdeu o eu.
Entrou em um caminho conhecido
mas como de costume
se esqueceu.
Achou que agora seria seu
mas,
novamente o perdeu.

Com o quê da perdição

Eu cheguei
e no chão refletia o luar
No escuro
caminhei
pois,
senti que
perda maior
não poderia ter.

Novamente,
perdi teu sossego
e também
o meu.

Quando se está longe demais

Prefiro sentir o vento
mesmo que ele desmanche
meu penteado.
Prefiro olhos nos olhos.
Se chove,
prefiro correr na chuva.
De um sonho,
dispenso qualquer sinal
de realidade.
Adoro imaginar um sorriso desarmar
uma maldade.
E pensar que de um encontro
vá nascer amor de verdade.
Prefiro ser piada.
Prefiro dormir de mãos dadas.
Prefiro taças cheias de risadas.
Prefiro sonhar acordada.