Lembro-me de pés pequenos e descalços junto à mãos dadas e sorrisos infantis, de quem nunca ouviu falar em tempo.
Tais pequenos pés que corriam as ruas para sentir o cheiro de dezembro que brotava nas árvores da vizinhança e sentados na calçada a espera de cumprimentos natalinos repentinos.
Lembro minha mãe arrumando a cozinha e a sala e a sala e a cozinha, e a cozinha e a sala, infinitas vezes - ao invés de botar ordem na criançada - já aprumada e vestida, só esperando a ordem: comida!
No meu natal não dispunhamos de presentes e nas raras vezes que os tivemos, só tivemos, nada mais. Esquecia-se em um canto ao primeiro sinal de fogos ou pela chegada de um ilustre convidado, que muitas vezes poucos de nós conhecia.
A incrível festa de natal, tão esperada e desejada, sabe-se lá por qual motivo - sutilmente chegava ao fim quando não tão sutilmente a voz pesada do meu pai soava repressora aos mais jovens pelo excesso de alegria e às crianças, pelo sono tardio.
E assim acabava o natal, no tempo em que o tempo não existia. Onde ele talvez não significasse nada e nem precisasse. Onde comia-se, bebia-se e brindava-se a mais uma nova descoberta, o novo namorado da prima, a briga do casal amigo de meus pais, a tia Vilma ter bebido um sofá de cervejas e essas coisas.
O natal que demorara tanto a chegar e parecia durar até tão tarde, acabava-se em piscadelas pesadas no colo quente da mãe e mesmo que os olhos quisessem permanecer abertos, logo o cansaço os nocauteava.
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