Porque não somos vento

O vento está soprando furioso, como quem tem pressa de viver. Mas por que teria pressa o vento? Alguém que tem por ofício passar. E nunca fica, sempre está a estar.
Por isso eu penso que o vento deve ser a mais feliz de todas as coisas. Mas por que teriam felicidade as coisas? Não devem ter. Devem só ser o que são para que pessoas como nós as vejamos sendo para junto a elas também sermos. E se somos como o vento, então nunca seremos como deveríamos ser, porque afinal não somos vento. O vento é assim porque assim lhe foi designado ser. E isso explica a funcionalidade das coisas, porque se não somos nós vento e somos nós pessoas e as pessoas enxergam o vento nas suas particularidades, então somos particularidades pessoais e não pessoas cheias de impressões. Porque não somos vento, mas podemos ter ele como fúria, ou pressa, ou um córrego de informações - por isso nós somos impressões em pessoas e então deixamos de ser pessoas.

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