silêncio.
como antes.
o silêncio que mede o valor.
Seco, como a absorção instantânea do absinto nas mucosas.
Branco, como a última lembrança da noite.
O silêncio é a nova forma
de tratamento dos seres
é bem-vindo
como tantas as outras contrariedades
do que dizem as bocas
Para provar para a psicanálise
o quão silenciosos são aqueles que pensam demais.
Para virar anotação sobre a nova concepção dos ditos saudosos,
que não passam de novos pontos de interrogação
infinitas vírgulas e pontuações
em todas as suas variações
já colhidas,
escritas
minuciosamente pontuadas
prontamente descartadas
revisitadas
e de novo contestadas
após serem analisadas
e medidas
e provadas
infinitamente
interrogadas.
Bobagens
Bobagens para o café,
bobagens para quem não tem medo.
A transitoriedade faz tudo se tornar tão simples,
que contraditório seria gastar um só minuto que não fosse com bobagens.
E
Se criar leis fosse de meu feitio
eu criaria decreto
- sem direito a veto -
para existir mais afeto
entre o sonho e o concreto.
bobagens para quem não tem medo.
A transitoriedade faz tudo se tornar tão simples,
que contraditório seria gastar um só minuto que não fosse com bobagens.
E
Se criar leis fosse de meu feitio
eu criaria decreto
- sem direito a veto -
para existir mais afeto
entre o sonho e o concreto.
Um quase soneto de eterno retorno
De repente
o passado
se fez presente
E o que foi
dado por finito
Hoje se mostra insistente
O tempo dito inimigo
faz-se indiferente
Para o que estava perdido
e o que foi designado ausente
A história ainda caminha
como que irrestritamente
Pois o fim só é verdade
quando muda o que se sente.
o passado
se fez presente
E o que foi
dado por finito
Hoje se mostra insistente
O tempo dito inimigo
faz-se indiferente
Para o que estava perdido
e o que foi designado ausente
A história ainda caminha
como que irrestritamente
Pois o fim só é verdade
quando muda o que se sente.
Ao mundo
O menino chora junto ao corpo sem vida. A aldeia toda está em silêncio, a luz da lua é fraca, o rio navega em breu. A senhora na porta da oca entoa uma canção em voz chorosa e tristonha e os animais dali não dão um só pio, nem um sopro de vida. 'Ahora solo tenemos su cuerpo', dizia.
E estavam mortos,
todos aqueles que respiraram a morte naquele dia.
E estavam mortos,
todos aqueles que respiraram a morte naquele dia.
Epitáfio.
Os costumes não vão mudar a mim.
E no meu epitáfio, escrito estará assim:
E fim de mundo.
E no meu epitáfio, escrito estará assim:
'Cá jaz o corpo de Marina, uma amante de histórias de aventura, lençóis de malha, combinação de cores, leite com café, objetos em miniatura e colheres amarelas de porcelana.'
(Ps: Mas, não se precoupe, cá só está o corpo. E ela gostava mesmo é de ter alma.)
E fim de mundo.
Mais sobre o tempo
Eu não tenho límites
céu e terra
são todas as coisas
que eu ainda não provei.
E o que já vi, ainda precisa de tempo
para que possa reinventar.
Qualquer caminho visto de longe é curto
e quando da jornada;
esta parece inacabável.
É só vivendo que se vive
do contrário
as histórias seriam mais longas
e o tempo - imenso e infinito
Por isso
o tempo corre fora do eixo
mudando hora a hora o percurso
das histórias
e vire e mexe o então vira porém
fazendo milenar descoberta aquém
para ninguém limitrofiar.
céu e terra
são todas as coisas
que eu ainda não provei.
E o que já vi, ainda precisa de tempo
para que possa reinventar.
Qualquer caminho visto de longe é curto
e quando da jornada;
esta parece inacabável.
É só vivendo que se vive
do contrário
as histórias seriam mais longas
e o tempo - imenso e infinito
Por isso
o tempo corre fora do eixo
mudando hora a hora o percurso
das histórias
e vire e mexe o então vira porém
fazendo milenar descoberta aquém
para ninguém limitrofiar.
Porque não somos vento
O vento está soprando furioso, como quem tem pressa de viver. Mas por que teria pressa o vento? Alguém que tem por ofício passar. E nunca fica, sempre está a estar.
Por isso eu penso que o vento deve ser a mais feliz de todas as coisas. Mas por que teriam felicidade as coisas? Não devem ter. Devem só ser o que são para que pessoas como nós as vejamos sendo para junto a elas também sermos. E se somos como o vento, então nunca seremos como deveríamos ser, porque afinal não somos vento. O vento é assim porque assim lhe foi designado ser. E isso explica a funcionalidade das coisas, porque se não somos nós vento e somos nós pessoas e as pessoas enxergam o vento nas suas particularidades, então somos particularidades pessoais e não pessoas cheias de impressões. Porque não somos vento, mas podemos ter ele como fúria, ou pressa, ou um córrego de informações - por isso nós somos impressões em pessoas e então deixamos de ser pessoas.
Por isso eu penso que o vento deve ser a mais feliz de todas as coisas. Mas por que teriam felicidade as coisas? Não devem ter. Devem só ser o que são para que pessoas como nós as vejamos sendo para junto a elas também sermos. E se somos como o vento, então nunca seremos como deveríamos ser, porque afinal não somos vento. O vento é assim porque assim lhe foi designado ser. E isso explica a funcionalidade das coisas, porque se não somos nós vento e somos nós pessoas e as pessoas enxergam o vento nas suas particularidades, então somos particularidades pessoais e não pessoas cheias de impressões. Porque não somos vento, mas podemos ter ele como fúria, ou pressa, ou um córrego de informações - por isso nós somos impressões em pessoas e então deixamos de ser pessoas.
Conto de Natal ou Memórias de vidro reluzente
Lembro-me de pés pequenos e descalços junto à mãos dadas e sorrisos infantis, de quem nunca ouviu falar em tempo.
Tais pequenos pés que corriam as ruas para sentir o cheiro de dezembro que brotava nas árvores da vizinhança e sentados na calçada a espera de cumprimentos natalinos repentinos.
Lembro minha mãe arrumando a cozinha e a sala e a sala e a cozinha, e a cozinha e a sala, infinitas vezes - ao invés de botar ordem na criançada - já aprumada e vestida, só esperando a ordem: comida!
No meu natal não dispunhamos de presentes e nas raras vezes que os tivemos, só tivemos, nada mais. Esquecia-se em um canto ao primeiro sinal de fogos ou pela chegada de um ilustre convidado, que muitas vezes poucos de nós conhecia.
A incrível festa de natal, tão esperada e desejada, sabe-se lá por qual motivo - sutilmente chegava ao fim quando não tão sutilmente a voz pesada do meu pai soava repressora aos mais jovens pelo excesso de alegria e às crianças, pelo sono tardio.
E assim acabava o natal, no tempo em que o tempo não existia. Onde ele talvez não significasse nada e nem precisasse. Onde comia-se, bebia-se e brindava-se a mais uma nova descoberta, o novo namorado da prima, a briga do casal amigo de meus pais, a tia Vilma ter bebido um sofá de cervejas e essas coisas.
O natal que demorara tanto a chegar e parecia durar até tão tarde, acabava-se em piscadelas pesadas no colo quente da mãe e mesmo que os olhos quisessem permanecer abertos, logo o cansaço os nocauteava.
Tais pequenos pés que corriam as ruas para sentir o cheiro de dezembro que brotava nas árvores da vizinhança e sentados na calçada a espera de cumprimentos natalinos repentinos.
Lembro minha mãe arrumando a cozinha e a sala e a sala e a cozinha, e a cozinha e a sala, infinitas vezes - ao invés de botar ordem na criançada - já aprumada e vestida, só esperando a ordem: comida!
No meu natal não dispunhamos de presentes e nas raras vezes que os tivemos, só tivemos, nada mais. Esquecia-se em um canto ao primeiro sinal de fogos ou pela chegada de um ilustre convidado, que muitas vezes poucos de nós conhecia.
A incrível festa de natal, tão esperada e desejada, sabe-se lá por qual motivo - sutilmente chegava ao fim quando não tão sutilmente a voz pesada do meu pai soava repressora aos mais jovens pelo excesso de alegria e às crianças, pelo sono tardio.
E assim acabava o natal, no tempo em que o tempo não existia. Onde ele talvez não significasse nada e nem precisasse. Onde comia-se, bebia-se e brindava-se a mais uma nova descoberta, o novo namorado da prima, a briga do casal amigo de meus pais, a tia Vilma ter bebido um sofá de cervejas e essas coisas.
O natal que demorara tanto a chegar e parecia durar até tão tarde, acabava-se em piscadelas pesadas no colo quente da mãe e mesmo que os olhos quisessem permanecer abertos, logo o cansaço os nocauteava.
Bem-vindo às adjacências
A linha reta
que vai do -1
ao +1
é talvez o
maior trajeto
a ser percorrido.
É preciso para tal
saber a valiosidade zero
que todo caminho tem -
Medianizar
E não se iluda
em pensar
que o equilíbrio
é a estaca nula
de dois pontos -
ele é água e óleo
metade ilusória
que é por inteira
são as próprias coisas
não a ausência delas
E pode essa não ser a maneira
mais específica de viver
mas,
é assim que nós fazemos.
que vai do -1
ao +1
é talvez o
maior trajeto
a ser percorrido.
É preciso para tal
saber a valiosidade zero
que todo caminho tem -
Medianizar
E não se iluda
em pensar
que o equilíbrio
é a estaca nula
de dois pontos -
ele é água e óleo
metade ilusória
que é por inteira
são as próprias coisas
não a ausência delas
E pode essa não ser a maneira
mais específica de viver
mas,
é assim que nós fazemos.
Do outro lado do muro
Eu escrevo poemas
para dar pistas
de como me parece
a realidade
e às vezes, os sonhos.
Conto como quem viu
e não viu,
como um mosaico
ora ilustrado ora transparente
onde as imagens
distorcem às cores,
à luz, ao visitante assombreado
do outro lado.
E reflito sobre o reflexo
para dizer que mesmo
a falta de percepção
permite
pertinente
discussão - Conclusão.
para dar pistas
de como me parece
a realidade
e às vezes, os sonhos.
Conto como quem viu
e não viu,
como um mosaico
ora ilustrado ora transparente
onde as imagens
distorcem às cores,
à luz, ao visitante assombreado
do outro lado.
E reflito sobre o reflexo
para dizer que mesmo
a falta de percepção
permite
pertinente
discussão - Conclusão.
Fotografia
Celina acordava na surdina
fazia café e pão com margarina
vestida saia e era só dobrar a esquina
João aparecia
João acordava apressado
usava paletó e cabelo penteado
comia broa de milho e café açucarado
de Celina era o namorado.
Celina sorria a João
João enrubescia
João lhe dava uma flor
Celina agradecia
Celina acordava, pensava em João, ansiava por vê-lo
apressava o coração.
João acordava, pensava em Celina, em sua pele tão fina
sua boca macia.
O amor era companhia
dia e noite, noite e dia
Cada hora que passava
mais esse amor crescia
Pois em toda manhã
na esquina aparecia
o sorriso acanhado
de uma jovem menina
e o menino esperando:
sua alegria.
E assim acontecia
como na fotografia
daquela senhora antiga
pelo tempo esquecida
que guarda na gaveta da sala
sua própria cantiga.
fazia café e pão com margarina
vestida saia e era só dobrar a esquina
João aparecia
João acordava apressado
usava paletó e cabelo penteado
comia broa de milho e café açucarado
de Celina era o namorado.
Celina sorria a João
João enrubescia
João lhe dava uma flor
Celina agradecia
Celina acordava, pensava em João, ansiava por vê-lo
apressava o coração.
João acordava, pensava em Celina, em sua pele tão fina
sua boca macia.
O amor era companhia
dia e noite, noite e dia
Cada hora que passava
mais esse amor crescia
Pois em toda manhã
na esquina aparecia
o sorriso acanhado
de uma jovem menina
e o menino esperando:
sua alegria.
E assim acontecia
como na fotografia
daquela senhora antiga
pelo tempo esquecida
que guarda na gaveta da sala
sua própria cantiga.
Pela estrada a fora
de costas
para a vida
eu sigo
na direção
contrária
rumando
para o
sentido oposto
dos sentidos
já declarados
eu crio
a minha jornada
como parte
crua
de mim
eu sou o meu caminho
eu sou o meu destino
eu sou o centro
do meu eu.
para a vida
eu sigo
na direção
contrária
rumando
para o
sentido oposto
dos sentidos
já declarados
eu crio
a minha jornada
como parte
crua
de mim
eu sou o meu caminho
eu sou o meu destino
eu sou o centro
do meu eu.
Sinalizações
os sinais amarelos sairam para fora
pela janela da cozinha,
eles são tão aventureiros pela manhã
e caminham com naturalidade
pelas vias públicas.
talvez nem o presidente seja digno
de tocar as luzes amarelas imaginárias,
pois são elas esterilizadas.
os sinais amarelos
estão acampados
e fazem campanha e cruzada
para que o mundo
fique mais intermediário,
e menos revolucionário
nem verde ou vermelho
os sinais
devem ser
amarelados.
pela janela da cozinha,
eles são tão aventureiros pela manhã
e caminham com naturalidade
pelas vias públicas.
talvez nem o presidente seja digno
de tocar as luzes amarelas imaginárias,
pois são elas esterilizadas.
os sinais amarelos
estão acampados
e fazem campanha e cruzada
para que o mundo
fique mais intermediário,
e menos revolucionário
nem verde ou vermelho
os sinais
devem ser
amarelados.
AM:PM
acordar no meio da noite
para saber quem são teus pensamentos
e escrever palavra por palavra
até fazer sentido
para deitar de novo.
e incessantemente pensar.
compulsivamente.
obsessivamente.
linhas paralelas de reflexão
que chegam
e levam para lugar nenhum
onde deita a cabeça
nem sempre é onde a cabeça deita
e a cabeça fica
como quem quer ficar
e vai como quem quer
fugir
ela não para
nem para respirar
fazendo força
para talvez explodir
e pode ser que
isso ocorra
se for ocorrer
e tudo isso que quero
tanto saber
e não sei
são só especulações
dessa imprevisíbilidade
neurótica.
para saber quem são teus pensamentos
e escrever palavra por palavra
até fazer sentido
para deitar de novo.
e incessantemente pensar.
compulsivamente.
obsessivamente.
linhas paralelas de reflexão
que chegam
e levam para lugar nenhum
onde deita a cabeça
nem sempre é onde a cabeça deita
e a cabeça fica
como quem quer ficar
e vai como quem quer
fugir
ela não para
nem para respirar
fazendo força
para talvez explodir
e pode ser que
isso ocorra
se for ocorrer
e tudo isso que quero
tanto saber
e não sei
são só especulações
dessa imprevisíbilidade
neurótica.
Al revés
de tanto parar
meu coração
bateu
e o que era negro
enrubesceu
e por um sopro
se preencheu
a pedra fria
se aqueceu
e como quem voa
enalteceu.
de tanto palpitar
meu coração
adormeceu.
meu coração
bateu
e o que era negro
enrubesceu
e por um sopro
se preencheu
a pedra fria
se aqueceu
e como quem voa
enalteceu.
de tanto palpitar
meu coração
adormeceu.
O que sobrou
correndo o mundo
sem palavras, desta vez.
como se cada camada da minha superfície
até o centro do meu eu
precisasse de voltar.
volta o tempo
volta a roda
volta a vida
e para de rodar
anda linha reto
por onde vai achar
não tem roteiro, nem direção
é como se cada camada de mim
não soubesse onde pisar
então levita nessa dança louca
e fecha os olhos já que não consegue enxergar
em um só balanço
um canto, danço
trá la la la.
sem palavras, desta vez.
como se cada camada da minha superfície
até o centro do meu eu
precisasse de voltar.
volta o tempo
volta a roda
volta a vida
e para de rodar
anda linha reto
por onde vai achar
não tem roteiro, nem direção
é como se cada camada de mim
não soubesse onde pisar
então levita nessa dança louca
e fecha os olhos já que não consegue enxergar
em um só balanço
um canto, danço
trá la la la.
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